Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta,
Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta,
Em que as coisas têm toda a realidade que podem ter,
Pergunto a mim próprio devagar
Porque sequer atribuo eu
Beleza às coisas.
Uma flor acaso tem beleza?
Tem beleza acaso um fruto?
Não: têm cor e forma
E existência apenas.
A beleza é o nome de qualquer coisa que não existe
Que eu dou às coisas em troca do agrado que me dão.
Não significa nada.
Então porque digo eu das coisas: são belas?
Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver,
Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens
Perante as coisas,
Perante as coisas que simplesmente existem.
Que difícil ser próprio e não ver senão o visível!
In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa.
1 Comentário:
Os monstros de repente querem parecer ter sentimentos. Perderam o sentido de humor e até querem parecer humanos, sem memória são florzinhas inofensivas. Há poemas que ensinam os homens a desconfiar daqueles que falam do belo, podemos estar na presença de incendiários.
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