segunda-feira, 1 de março de 2010

Líderes emocionalmente inteligentes podem transformar-se em manipuladores natos



A inteligência emocional (IE) representa a capacidade para conciliar emoções e razão: usar as emoções para facilitar a razão, e raciocinar inteligentemente acerca das emoções. Inclui características como (a) a consciência das emoções próprias e dos outros; (b) a empatia; (c) o conhecimento das causas e das consequências das emoções; (d) a reparação de estados de espírito negativos; (e) a gestão das emoções próprias e dos outros.

Embora o tema seja controverso, algumas pesquisas têm sugerido que a IE contribui para o sucesso profissional, a saúde, a satisfação com a vida e com o trabalho e a eficácia dos líderes. Autores como Goleman sugerem mesmo que quase 90% das competências necessárias para o sucesso da liderança são de natureza emocional e social. Alguma evidência científica não é tão peremptória, mas há razões para supor que os líderes emocionalmente inteligentes denotam várias capacidades:

- Sintonizando as emoções dos colaboradores, ficam mais capacitados para motivá-los e entusiasmá-los.

- São capazes de articular uma visão para a organização mais mobilizadora dos talentos.

- Desenvolvem relações interpessoais mais frutuosas dentro e fora da organização.

- Fomentam a criatividade dos colaboradores, daí advindo maior inovação.

- Conseguindo reparar estados de espírito negativos, acabam por ser mais perseverantes e corajosos.

- Captando as emoções "em redor", são capazes de escolher os momentos mais apropriados para tomar decisões (e.g., repreender ou elogiar um colaborador).

Líderes com elevados níveis de IE podem criar climas onde imperam a partilha, a confiança, níveis saudáveis de tomada de risco e uma aprendizagem proveitosa. Ao contrário, baixos níveis de IE produzem medo, ansiedade, inibição de arriscar, resistência à partilha de conhecimentos e experiência. Quando um líder está sob estados de espírito positivos, as pessoas em seu redor tendem a encarar a envolvente de um modo também positivo - tornando-se mais optimistas acerca do alcance dos objectivos, mais criativas, mais eficientes na tomada de decisão, e mais predispostas para ajudar os restantes membros organizacionais. Ocorre, então, uma espécie de liderança ressonante: os estados de espírito dos líderes repercutem-se nos seus colaboradores e no desempenho do grupo ou organização.

É necessário, todavia, ser cauto perante este "paraíso celestial". Líderes com boas competências de IE podem transformar-se em manipuladores natos e criar danos nos seguidores e nas organizações. E não é prudente tomar-se a IE como a panaceia. Características como a integridade e as competências técnicas e conceptuais são também essenciais. Acresce que pessoas emocionalmente inteligentes não suscitam necessariamente organizações e grupos emocionalmente mais capazes. Uma organização repleta de indivíduos emocionalmente inteligentes pode mesmo dar origem a uma organização deficitária em capacidade emocional. …..

Arménio Rego
DN/Sapo


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