Dois saltos de coelho
Foto publicada por Mestre Finezas
Tome-se Passos Coelho como exemplo fácil, entre outros de maior responsabilidade, em duas propostas de candidatura ao PSD e ao país:
1. Propõe a privatização da quase totalidade do sector público do Estado, pressupondo que é minado por interesses privados, através das relações empresariais cruzadas que fomenta, mas contraditoriamente propõe também o aumento das parcerias dos privados com os serviços públicos, pressupondo que o Estado beneficiaria de sinergias de gestão optimizada. Então o pressuposto de uma proposta elimina o pressuposto da outra (os interesses privados infiltrar-se-iam por um lado, enquanto as sinergias (termo imbecil em economia) se perderiam por outro. Nem precisamos de ponderar a sua razoabilidade, quando assenta em premissas tão disparatadas. A privatização é um problema de monopólio capitalista que exige outro enquadramento.
2. Propõe que, em vez de pagar subsídios aos desempregados que ficam em casa, o Estado pague subsídios a patrões que empreguem esses desempregados. Aqui é absolutamente original mas inconsequentemente perigoso. O subsídio de desemprego é uma benesse para a economia, e assim foi pensado pelos keynesianos, pois evita quebras bruscas do consumo privado e conserva a disponibilidade de mão-de-obra. Um princípio fundamental da economia é o de que devem laborar apenas as unidades produtivas rentáveis, em condições de concorrência leal. Ao pagar a empresas para empregar trabalhadores, o Estado desvirtua aquele princípio, facilita o oportunismo de algumas e prejudica o funcionamento das mais fortes, em condições normais de mercado. Por outro lado, havendo subsídios para salários em situação recessiva, poucas empresas estariam dispostas a contratar trabalhadores que não recebessem subsídio de desemprego, o que atiraria para a miséria a população mais activa e produtiva. Não se trata só de um disparate, é tão grave que nem cabe numa adjectivação formal.
Perante os perigos que aí vêm, apetece dizer, como José Afonso cantava, é preciso avisar a malta.
Texto de autoria de João de Sousa em economia literal - 9 de Março de 2009
1 Comentário:
Caro Mestre Finezas, eu até nem sou economista e de finanças percebo muito pouco, mas pelo pouco que me foi dado a conhecer, a escola do pensamento económico Keynesiana tem muitos seguidores, mas não é nenhuma religião nem sequer acredito que seja o caminho da verdade. É verdade que a economia capitalista não se auto regula, é verdade que o estado deve ter um papel interventivo no estado da economia, mas é também verdade que o estado tem vindo a engordar e a engordar os milhares de funcionários que se acotovelam por essas repartições a fora. Não é eficiente na maior parte dos casos e não vale o que custa, por outras palavras tem um peso excessivo na nossa economia.
Nestas alturas de vacas magras em que o sistema produtivo do país se vai abaixo, o estado alarga mais uns furos do cinto e dá albergue a mais uns milhares muito grandes de Portugueses. E é aqui que surge o problema, com o tecido empresarial todo torcido, com milhares de portugueses a receberem subsídio de desemprego, outros que nem a isso têm direito e com muito menos receita tenta injectar dinheiro no sistema através de programas que só servem as empresas que ainda conseguem ter as contas em dia. Por outras palavras, engorda os já fortes e atléticos monopólios e estimula através de somas incalculáveis de forma directa e indirecta (isentando o pagamento de segurança social, IRC, e outros) a vinda de empresas estrangeiras para esta china da Europa.
O apoio directo ao tecido empresarial português só tem sentido se for feito no terreno, nas empresas de pequena e média dimensão, é ai que reside o empresário tradicional, aquele que hoje está a morrer á mingua, aquele que porventura poderia aguentar os seus trabalhadores se lhe dessem a oportunidade. O grande problema de Keynes, é que a humanização é hoje um factor muito importante a ter em conta. Quantas empresas há que sustentam empregados que por já terem uma certa idade, se podem tornar menos competitivas?
Este texto do João de Sousa é um texto inteligente, bem ao jeito de quem já leu a “Teoria Geral do Emprego, Juros e Moeda” e que lê o semanário económico enquanto olha para a bolha do NASDAC a pensar que a pujança da economia norte americana pode ser aplicada num país sem tecido empresarial real.
Caro Mestre Finezas, o subsídio de desemprego só é uma benesse para a economia quando a economia funciona, a gente precisa de tudo menos de disponibilidade de mão-de-obra. Será que enquanto esteve a ler o belo texto do João de Sousa, não se apercebeu que as empresas continuam a encerrar e que a disponibilidade de mão-de-obra continua a aumentar, será que no dia em que tivermos mais disponibilidade de mão-de-obra do que trabalhadores nas empresas vamos continuar a regular a economia com este método?
Em relação ao oportunismo, ele está ai, mas apenas ao alcance dos grandes grupos económicos que se têm servido a seu bel prazer, sinceramente, não vejo onde está o disparate de ver um pais a trabalhar, a produzir e a pagar impostos na exacta medida. Mesmo que para isso as pessoas tenham que “trabalhar”.
Já agora essa coisa da escola do pensamento económico Keynesiana assenta que nem uma luva numa economia mais liberal como a norte americana onde o estado tem um peso mínimo, experimente fazer o mesmo em Portugal, vai ver que se calhar até resulta.
Perante a dormência do povo que dorme a ler João de Sousa, apetece dizer, como o Manuel João dos Ena Pá 2000,
“Vida de cão
É não puder dizer que não,
Vida de cão
É encontrar um porcalhão,
Comer merda em vez de pão,
Engordar o tubarão
E ao domingo,
Beber tinto do garrafão. “
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