As surpresas do programa do PSD

Temos a garantia de que as medidas constantes do programa eleitoral do PSD serão “muito mais radicais” do que as acordadas no memorando de entendimento com a troika. Nem seria de esperar outra coisa, porquanto o programa laranja não poderia deixar de estar em consonância com o projecto de revisão constitucional do PSD.

Quem conheça o projecto de revisão constitucional do PSD (ou quem tenha estado a ouvir com atenção as conclusões do encontro do “movimento” Compromisso Portugal Mais Sociedade, no qual coube a Passos Coelho fazer o discurso de encerramento) não ficará certamente surpreendido com as novidades do programa. Estaremos seguramente em presença da maior guinada à direita dos 37 anos da democracia portuguesa.

Se uma viragem à direita é mais do que previsível, então o que é que pode vir a surpreender no programa do PSD? Julgo que serão os fretes — as pequenas ou grandes atenções.

Vimos como Ângelo Correia, o terrível Ângelo com interesses assumidos na segurança privada, não se coibiu de participar na elaboração do projecto de revisão constitucional do PSD que inclui uma norma que permite aos funcionários de empresas de segurança privada passar a revistar pessoas em espaços públicos. Ou como o próprio Pedro Passos Coelho não se esquivou a anunciar, na entrevista dada esta semana à RPT, que pretende privatizar as Águas de Portugal, quando se sabe que ele era funcionário de Ângelo Correia num grupo económico que está interessado na privatização daquela companhia.

Este vai ser um trabalho interessante: descobrir estas dedadas impressões digitais no programa do PSD. O resto — a violenta guinada à direita — já não será propriamente uma novidade.

Vito em "Câmara Corporativa"