Zorba
Na noite em que Atenas voltou a arder, Manolis Glezos foi barrado pela polícia quando pretendia entrar no parlamento. Ele queria desafiar os deputados gregos a que não se ajustassem a uma qualquer voz de comando, a que não vacilassem perante as notícias de que a Alemanha,a Finlândia e os Países Baixos estavam a "perder a paciência" com a Grécia. Manolis, o octogenário de bigode branco e olhos azuis disse com a dignidade de um velho resistente aquilo que Venizelos, o ministro das Finanças, entredisse mais tarde, na outra margem do desespero : "Há vários países que já não nos querem".
Esta constatação de que a Europa das contas certas se dá ao luxo de descartar uma das suas partes como se apagasse uma parcela errada, esta ideia de que o controlo da dívida justifica o abandono de valores estruturantes, fundadores, da própria ideia de Europa, é já explicitada com o despudor e a desfaçatez dos cobradores de fraque.
Karolos Papoulias, o presidente grego (tal como Manolis Glezos, um velho resistente) não se sentiu diminuido pelo poder meramente simbólico do cargo. Ontem, veio lembrar-nos que os europeus lutaram juntos no passado. E fez a pergunta que dança como um nó na garganta dos europeus de cabeça levantada: "Quem é o senhor Schauble para insultar a Grécia?".
Ora desse passado em que os europeus lutaram juntos há, ainda, mesmo que aparentemente residuais, contas por saldar. Foi o que Manolis Glezos gritou á porta do parlamento na noite em que Atenas voltou a arder. Ele lembrou que Hitler obrigara o Tesouro grego a emprestar dinheiro ao III Reich. 100 milhões de euros, às contas de hoje. Berlim pagou dívidas semelhantes a outros países, depois da guerra. Mas nunca saldou a dívida que tem perante a Grécia, agora "descartável". Quem é o senhor Schauble para insultar a Grécia, pergunta, fazendo contas, lembrando créditos antigos, o velho resistente Manolis Glezos. Quem é este homem? É aquele que num certo 30 de Maio de 1941, retirou a bandeira nazi da Acrópole.
De Gaulle chamou-lhe "o primeiro partisan da Europa".
Há tempos, juntamente com Mikis Teodorakis, fundou um movimento contra o memorandum. Escorados na memória e nos valores que fundaram a Europa, Manolis Glezos e Mikis Teodorakis, ambos antigos resistentes e antigos deputados, estiveram à porta do parlamento, na noite em que Atenas voltou a arder. Diante da força policial que os barrou, eles repetiram Zorba, o Grego, a cena em que Zorba abre os braços e grita para o companheiro: "Alguma vez viste um desastre mais esplêndido?"
Zorba, o que dança na praia de Stravos, levado pela música de Teodorakis. Chamavam-lhe "Epidemia". Porque espalhava o caos.
Visto na "
TSF"
16-02-2012
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