sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Programa da RTP2 anunciou tragédia da Madeira há dois anos

Desde há pelo menos quatro anos que vários cientistas têm feito alertas ao Governo Regional para o perigo que espreitava a ilha da Madeira. Um dos avisos foi transmitido no programa Biosfera, exibido pela RTP2 há dois anos.



"A tragédia que se abateu sobre a ilha da Madeira era expectável. Há cerca de dois anos, vários especialistas ouvidos pelo programa Bioesfera, da RTP2, davam conta da vulnerabilidade da Madeira a fenómenos naturais como cheias e aluviões.

O trabalho jornalístico, transmitido em Abril de 2008 e coordenado por Arminda Deusdado, alerta para a inexistência de cartas de risco na maioria dos municípios da ilha, para a contínua construção ao longo dos cursos de água ou sobre os leitos das ribeiras, ou mesmo para o estreitamento e canalização destas com consequências para o ambiente e para a segurança de pessoas e bens.

Na altura, como agora, o Governo Regional da Madeira recusou prestar declarações e fazer o contraditório dos factos apresentados.

Mas antes deste programa ir para o ar, já outros alertas tinham chegado aos governantes madeirenses.

As propostas dos "cientistas loucos"

Em 2006, um grupo de investigadores da Universidade de Aveiro apresentou no 10º Congresso Nacional de Geotectina, em Lisboa, um estudo sobre as consequências da construção excessiva no concelho do Funchal, desde o aluvião registado em 1993.

Intitulada "Impacte Ambiental Provocado pela Construção subterrânea na baixa citadina do Funchal", a investigação desenvolvida por João Batista Silva, Fernando Almeida e Celso Gomes, chama a atenção para "a crescente construção na baixa citadina do Funchal". Para os académicos, "o estreitamento e ocupação dos leitos das ribeiras conduziram à impermeabilização do solo e subsolo, que tem vindo a danificar o património edificado, e que representa um perigo crescente face à possível ocorrência de cheias".

Os especialistas, que foram apelidados de "cientistas loucos", pelos governantes madeirenses, sugeriram então seis medidas "para minimizar os efeitos das aluviões"
:

1 - Recuperação da floresta indígena (Laurissilva) nas zonas montanhosas e nas cabeceiras dos principais cursos de água para aumentar a infiltração de água e combater a erosão dos solos;

2 - Planeamento do território que envolva a gestão integrada dos recursos hídricos;

3 - Identificação, caracterização, controlo e monitorização do movimento de depósitos nas ribeiras, que possam dar origem a escorregamentos e/ou correntes de lamas;

4 - Remoção de vegetação, materiais geológicos e entulhos e lixos do leito das ribeiras;

5 - Definição de um modelo hidrodinâmico capaz de prever em tempo real a ocorrência de cheias na baixa citadina e gestão dos canais de escoamento;

6 - Elaboração de cartas de risco de cheias (Aluvião) que tenha em conta para uma dada área as condições geológicas, geomorfológicas, pedológicas e hidrológicas."

PDF: Clique para ler o estudo sobre o impacte ambiental na baixa do Funchal

Lido em: http://aeiou.expresso.pt

1 Comentário:

Anónimo disse...

Aí há dois ou três dias passou, num telejornal, uma reportagem sobre o trabalho voluntário que, neste momento, muita gente desenvolve na Madeira. Às páginas tantas o jornalista pergunta à senhora qual é a sua profissão. Esta mostra-se visivelmente incomodada com a pergunta, hesita em responder, mas depois, meio envergonhada, lá diz entre dentes - sistemas de informação geográfica, SIG.

Para quem não sabe, e de uma forma simplista, o SIG é uma ferramenta que sobrepõe nas plantas dos terrenos (cartas militares, levantamentos topográficos, limites das propriedades, fotografias de satélite, etc.), informação diversa, tal como: características geológicas dos terrenos, linhas de água, edifícios, estradas, tipo de vegetação, distribuição da população, etc. Este tipo de instrumento permite avaliar, a diversos níveis, as características e os potenciais riscos de uma determinada parcela do território, sendo por isso muito utilizado para fazer o planeamento e ordenamento desse mesmo território.

Aquela senhora sabia perfeitamente, como certamente muitas outras pessoas que, um dia, aquela desgraça iria acontecer. Com o seu trabalho voluntário, com as nossas esmolas, nesta, assim como em muitas outras tragédias antecipadamente publicitadas, acalmamos as nossas consciências incomodadas.
Quem vier atrás que feche a porta.

MB

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