Corpo e Alma - Aquela dos Olhos Negros
ENCONTROS
Quem entra na Farmácia Nova – que apesar do nome já conta com 73 anos – dificilmente deixa de reparar em duas cadeiras colocadas logo à entrada, perto da porta. "Estão aí para as quem quiser usar", diz Maria Manuela, técnica de farmácia e filha do proprietário. E há quem não se faça rogado, sobretudo idosos a quem o peso da solidão acompanha o avançar dos anos, mas também gente mais nova que se habituou a entrar sem ter necessidade de o fazer. "Nestes meios mais pequenos, a farmácia ainda é o centro do mundo, às vezes quase um muro das lamentações."
Um espaço, em Viana do Alentejo, onde se fala de saúde e de tudo o resto, dos comprimidos que é preciso tomar aos desgostos de amor, do colesterol às agruras da vida. "A farmácia continua a ser um ponto de encontro", garante Maria Manuela, lamentando, porém, que a "confiança" dos cidadãos relativamente a quem trabalha neste sector esteja a ser posta em causa pelas constantes mudanças a nível das políticas do medicamento. "É um problema que se tem vindo a agravar com preços, percentagens, comparticipações a mudarem de dia para dia. As pessoas não entendem porque é que um medicamento que era gratuito passa a ser pago, porque é que num mês pagam uma coisa e noutro pagam outra, tudo isto gera desconfianças e receios."
O que continua a valer é o facto de a terra ser "pequena", de todas as pessoas se conhecerem e, por isso, não sentirem que estão a ser enganadas. "Temos de explicar que isto resulta das aplicações do sistema informático e que não somos nós que controlamos os preços."
Com o agravamento da crise são cada vez mais as pessoas que chegam à farmácia sem dinheiro para comprar os medicamentos receitados pelo médico. Gente que entra envergonhada e sai depois de aviar apenas uma parte da receita. São casais com filhos na escola, em que um ou os dois cônjuges estão desempregados, porque entre os mais idosos a carência extrema "ainda não é tão evidente".
Segundo Maria Manuel, "as pessoas com mais idade têm o seu pé-de-meia ou o dinheiro certo da reforma ao fim do mês". Não sendo muito, é com este pouco que se habituaram a contar. "Às vezes, sinto-me mal por ter de apertar um bocadinho [com os pagamentos], acredite que é complicado." Ainda para mais porque quem está atrás do balcão acabou por "criar ligações; muitas vezes até amizade", com as pessoas.
De manhã acedo chegam os idosos, cornos mais variados pretextos, às vezes para medir a tensão, outras para esclarecer uma dúvida: "Chegam a vir duas e três vezes perguntar a mesma coisa." O importante não é a resposta mas o pretexto para dois minutos de conversa. "A solidão pesa muito." E a crise também.
LUÍS GODINHO, no DN , de 22 de Outubro de 2011
3 Comentários:
Fora do contexto deste post, a titulo de comentário à última pérola do Blogue do Estêvão.
O senhor Estêvão Pereira não está preocupado com as políticas deste governo, tão pouco está apostado no seu combate político. Está é preocupado com o Movimento. Na sua crónica mensal que desta vez mereceu, para além do seu, alguns comentários dos deserdados da fortuna, a tecla do Movimento volta a ser raivosamente percutida. Um regresso à estratégia seguida pelo seu grupo durante as últimas eleições, que tão bons resultados proporciou.
O senhor Estêvão Pereira não está preocupado com as condições de vida dos munícipes que a cada dia que passa mais se degradam, por força das políticas praticadas pelo partido que ele e o partido a que diz pertencer ajudaram a eleger. Está preocupado com os independentes, comunistas, sociais-democratas e socialistas que, democraticamente, nas urnas, entregaram ao actual executivo a gestão dos interesses de todos nós.
O senhor Estêvão Pereira, um reformado de luxo com avença política na câmara da Vidigueira, deveria saber que o Movimento não é um partido, tão pouco uma religião, não tem “seguidores”. O Movimento, foi um movimento de cidadania expressando uma indiscutível vontade de mudança.
O senhor Estêvão Pereira lida mal com a contrariedade e continua teimosamente em negação. Chamar “ilusão eleitoral” aos resultados das últimas eleições autárquicas está bem de acordo com o seu egocêntrico umbigo. Ele está certo, todos os outros estão errados.
diz o estevão que o movimento não existe, ele sempre há cada uma! como é que o mocinho foi para a vereador? não deve ter sido da malta ter estado parada!
O seu egocêntrico umbigo também se reflete no seu democrático blog.
Reparem que no dito blog, não existe nehuma ligação para outros blogs.
Ele encontra-se no centro de alguma coisa que está a acontecer à sua volta.
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