O futuro do PSD
Bem sei que já foram escritos inúmeros textos de opinião sobre o novo líder do PSD. Textos muito bem comportados, recheados de lugares comuns, onde os apoiantes elogiam, com notório exagero, as qualidades do chefe e os adversários se dignam, com uma elegância digna de nota, reconhecer a dimensão da vitória e se prestam a dar ao dr. Passos Coelho o luxo do benefício da dúvida. Pelo meio, chovem teses sobre as prioridades do partido, onde abundam apelos à unidade e dissertações sobre a necessidade de o PSD surgir finalmente como uma alternativa ao Governo do engº Sócrates. Pode-se, por isso, dizer que de boas intenções está o PSD cheio.
Infelizmente, estas meritórias proclamações servem apenas para esconder o essencial: que o partido saiu desta campanha mais dividido e mais fragilizado do que nunca. A campanha interna foi como é unanimemente reconhecido um deserto de ideias? Foi. Em contrapartida foi fértil em ataques pessoais (principalmente entre as claques dos três candidatos) e pequenos golpes de secretaria que levantaram suspeitas sobre o próprio Conselho de Jurisdição. A noite eleitoral, com os sucessivos hinos à unidade por parte dos vencedores e vencidos, confirma a triste realidade que se vive no interior do PSD.
E mesmo o facto de o dr. Passos Coelho ter vencido as eleições internas com uma larga maioria não oferece, por si só, qualquer garantia de estabilidade. Nos primeiros tempos, poderá servir para segurar alguns ânimos mais acesos, mas a médio prazo não servirá para segurar seja o que for se o novo líder não mostrar que tem um rumo certo e um objectivo claro para o PSD e para o país. E, nesse capítulo, o mínimo que se pode dizer é que o dr. Passos Coelho deixa muito a desejar (verdade seja dita que os seus adversários também não se distinguiram neste capítulo).
Ao longo destes dois últimos anos, o seu suposto discurso ‘liberal’ tem-se notabilizado essencialmente por uma série de frases soltas que têm o condão de ser contrariadas pelos factos (privatização da Caixa Geral de Depósitos) ou pela necessidade de uma agenda que o obriga a dizer o mesmo e o seu contrário (defesa do investimento público e posterior crítica a esse mesmo investimento público, defesa de uma moção de censura se se provar que o primeiro-ministro mentiu na Assembleia e posterior declaração de que as eleições só se devem realizar em 2011, para dar apenas dois exemplos). Sobra ainda a artificialidade da pose, o culto da imagem e a ligação ao aparelho que é, hoje, um dos principais cancros do partido. O dr. Passos Coelho saiu da Jota. Infelizmente, dá ideia de que a Jota nunca conseguiu sair dele."
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