sexta-feira, 22 de julho de 2011

Que democracia é esta?

No Público de terça-feira (sem link), mais um importante texto de Boaventura de Sousa Santos. Aqui fica (os realces são nossos).

«No seu artigo no PÚBLICO de 2 de Julho, São José Almeida perguntava sobre o tipo de democracia em que estamos. A pergunta está na mente de muita gente e deve ser respondida. Como contributo para o debate, ofereço a minha resposta. É uma democracia de muito baixa intensidade, que assenta nas seguintes ideias-mestras:

1. As expectativas quanto ao futuro próximo são descendentes (as coisas estão mal mas vão ficar ainda pior) e têm de ser geridas com grande controlo do discurso do Governo e do comentário conservador ao seu serviço, de modo a excluir do horizonte qualquer alternativa credível. Desta forma, é possível transformar o consenso político eleitoral em resignação cidadã, a única maneira de manter vazias as ruas e as praças da revolta.

2. Uma profunda transformação subterrânea do regime político corre paralela à manutenção, à superfície, da normalidade democrática da vida política. Trata-se de um novo tipo de Estado de excepção, ou de Estado de sítio, que suspende ou elimina direitos e instituições sem ter de revogar a Constituição. Basta ignorá-la, para o que conta com a cumplicidade de um Presidente da República que paradoxalmente conseguiu atingir, sem governar, os objectivos por que lutou em vão quando governou; com a demissão do Tribunal Constitucional treinado para os baixos perfis das minudências formais; e com a paralisia de um sistema judicial demasiado desgastado social e politicamente para poder assumir a defesa eficaz da democracia.

3. A tutela internacional da troika não colide com a soberania nacional, quando o poder soberano não só está de acordo com o conteúdo político da tutela, como inclusivamente se legitima através do excesso com que a acolhe e reforça. Domina a crença de que um governo de direita de um pequeno país não tem o direito nem a necessidade de inovar. As medidas políticas para a destruição do Estado social e dos serviços públicos estão testadas com êxito nos governos de referência. Para saber o que vai acontecer na saúde, na educação, nas pensões e na assistência aos idosos, ou o modo como se vai dissimular o número de famílias que perderá a sua casa nos próximos tempos, basta estar atento à imprensa inglesa.

A ausência de inovação é disfarçada pelo estilo de apresentação (de preferência, com alguma radicalidade) feita por uma classe política jovem que transforma credivelmente retrocesso político em renovação política, inexperiência em benefício da aposta, total submissão a interesses económicos poderosos (nacionais e internacionais) em garantia contra a corrupção.

4. É crucial assegurar que a oposição permaneça paralisada pela armadilha que ela própria criou e que consiste em estar limitada (por quanto tempo, é a questão) a escolher entre duas possibilidades, que são outros tantos becos sem saída. A primeira é a luta parlamentar, onde, por não ter maioria, nunca poderá provocar uma crise de governação. A segunda é a luta extraparlamentar contra a resignação através da crença racional em alternativas democráticas credíveis que, de tão incontornáveis, ou entram no Parlamento ou acampam fora dele. Neste caso, provocaria uma crise de governação, mas esta só seria produtiva se os seus custos políticos, sobretudo de curto prazo, pudessem ser assumidos em conjunto por todas as forças de esquerda, o que, como é sabido, não é possível, pelo menos, por agora. Esta ideia-mestra da democracia de baixa intensidade recomenda que os rostos desgastados dos líderes da oposição se mantenham e que os que tiverem de ser substituídos o sejam por rostos que nunca viram a realidade social senão através das janelas do Parlamento.

O novo regime pensa-se como de longo prazo. Quando for superado, Portugal será um país muito diferente e assim permanecerá por muito tempo. O problema é que as armadilhas (tal como as minas antipessoais) são cegas e não reconhecem os donos. O Governo criou a sua própria armadilha ao pensar que a tutela internacional podia ser usada em dose controlada: usá-la para realizar o projecto político que a direita, por si só, nunca foi capaz de levar a cabo, mas impedir que os condicionalismos da tutela destruam o país. A armadilha reside em que a tutela, porque é internacional, vê Portugal à escala de um lugarejo e não submete a dosagem da sua intervenção a outros critérios que não sejam os seus.

Por todas estas razões, o 25 de Abril do próximo ano será o primeiro da lembrança de uma perda irreparável. Para ter alguma força, sugiro que se fundam nele o 5 de Outubro e o 1 de Dezembro. Haverá menos feriados, o que convém, e mais significado, o que convém ainda mais.»

Director do Centro de Estudos Sociais, Laboratório Associado, da Universidade de Coimbra

9 Comentários:

Anónimo disse...

Nada como, de vez em quando, começar o dia com uma volta rápida pelos blogues cá da gente. Hoje a minha atenção foi despertada pelo sempre original Portanto Pá (o tal que tem o Blogue do Estêvão como o primeiro dos primeiros Vendavais de Cá) que talvez por falta de tema para destilar, tem de canibalizar os outros blogues para poder postar. “A partir desse Blogue, anónimo, tudo foi dito e escrito”.Desta vez até é mais que canibal, é necrófago, pois vai recolher o assunto a um blogue há muito encerrado, enfim!

Há muito que deixei de colocar lá comentários. Só publicavam os que lhes dava jeito para dar um aspecto de liberdade de opinião e mesmo assim sempre logo cirurgicamente acompanhados pelos comentários deles.

Mistura um comentário de 2008 com resultados dos censos de 2011, má fé. Volta à história do crescimento da população do concelho, que toda a gente há muito percebeu dever-se unicamente à proximidade de Évora e ao facto de nos termos transformado nos últimos anos num dormitório dessa cidade. Não porque os jovens cá nascidos por aqui tenham encontrado umas tão boas condições de vida que por cá tenham ficado a trabalhar e a criar família. Não fomos nós que crescemos, foram os outros que vieram para cá morar, só morar, porque continuam a trabalhar fora.

Anónimo disse...

O vereador do Partido Comunista por Viana que remodelou recentemente o seu blog oficial, aproveitando para fazer uma lipoaspiração ao mesmo, põe no mesmo caixote crescimento populacional e desenvolvimento. Não é a mesma coisa, olhe que não, olhe que não. O hábito de atirar areia aos olhos das pessoas, por as ter em pouca consideração, torna-se tão natural em algumas pessoas que o fazem com a maior das naturalidades. Normalmente são os tais gajos bem-falantes, labiosos, como diz o povo.

Anónimo disse...

A razão pela qual o Portanto Pá se pode alimentar em blogues como o saudoso Viana e Tal é porque ele continua on line, contrariamente a outros, por exemplo A Tal Viana. Desse tenho uma bela colecção de artigos e comentários de elevada classe. “A partir desse Blogue, anónimo, tudo foi dito e escrito”.Estão guardadinhos na caixa dos tesourinhos deprimentes.

Anónimo disse...

Então mas é só o Portanto Pá que se alimenta do passado?? os eleitos não falam senão do passado, o Pacheco quando lhe dá jeito também vai ao passado destilar veneno. O problema é que uns podem tudo, outros não podem nada. Uns fazem o que querem e é com humor, os outros não têm graça nenhuma. Tesourinhos deprimentes há tantos, mas nem é preciso ir ao passado basta o bengalinha abrir a boca todos os dias.

Anónimo disse...

Eu gosto do blog do vereador do partido comunista e do que ele escreve. E acho qe ainda anda com paninhos de lã em relação a muitos assuntos.Acho que ele sabe muito mais do que aquilo que lá escreve e acho que devia mesmo dizer tudo o que pensa para ver se algumas pessoas baixavam o cabelo. Que merecem isso merecem.

Anónimo disse...

Eu também gosto, é bonito, cor de rosinha com florinhas, abichanado, mas bonito.

Anónimo disse...

Será que isto tem alguma coisa a ver com o loby gay?

Anónimo disse...

O loby gay fez e faz parte deste executivo. Na campanha parecia a marcha dos gays e agora é melhor não falar mas aquele menino arrogante e com a mania que sabe tudo senão é gay disfarça mal.

Anónimo disse...

Este senhor deve estar a ter problemas com a sua sexualidade, não me diga que se sentiu tentado a vir dar a mão ao pessoal da marcha?
Seu peneleirote.

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