sábado, 9 de julho de 2011

A golpada

Contrariando tudo o que dissera durante a campanha eleitoral, a primeira medida tomada por Passos Coelho foi aumentar o IRS, através do corte de cerca de 50% no subsídio de Natal.

Argumento invocado: o anterior Governo, que declarara um excedente de €432 milhões no orçamento do primeiro trimestre, foi agora desmentido pelo INE, que encontrou um défice de €3.177 milhões. Eis um episódio triste, de que o actual PM deveria envergonhar-se.

O episódio é triste por dois motivos. Em primeiro lugar, não se percebe como é que um défice de €3.177 milhões no primeiro trimestre pode impedir o défice de €10.068 milhões no final do ano, quando as medidas aprovadas visaram exactamente este valor. Em segundo lugar, releva de uma profunda ignorância confundir a contabilidade pública com a contabilidade nacional, onde a semelhança é idêntica à que existe entre um pepino e um girassol.

Façamos a analogia com o mundo empresarial. Nas empresas, a prestação de contas faz-se igualmente de duas maneiras: de um lado temos o balanço, que compara os proveitos com os custos, e por diferença obtêm-se os resultados; do outro lado temos o caixa, que compara as receitas com as despesas, de cuja diferença resulta o saldo. Dando de barato que os critérios de cálculo estejam correctíssimos, a discrepância de números pode ser abissal.

Imaginemos a aquisição de um equipamento por 100, pago integralmente no acto da compra e contabilisticamente amortizável em 5 anos. Na óptica do caixa, o valor registado é de 100; na óptica do balanço, o valor registado é de 20, porque os outros 80 transitam para os exercícios seguintes. Num lado há o valor que se gastou; no outro aquele que se imputou ao exercício. E podíamos escolher um só deles? Podíamos, mas não era a mesma coisa.

A conclusão a extrair de tudo isto é que Passos Coelho vive obcecado com a ‘troika', que a todo o custo quer ultrapassar pela direita. E esta diferença nos orçamentos caiu como sopa no mel: o Governo anterior foi chamado de irresponsável, os ‘troikistas' sorriram de orelha a orelha e o Estado ainda se prepara para encaixar uns milhões.

Mas o expediente não resultou. E o novato que se supunha diferente revelou-se igual a tantos outros: um político que não olha a meios para atingir os fins.

Não foi um gesto bonito.


" Daniael Amaral", visto no económico/sapo

2 Comentários:

peixe banana disse...

em quatro palavras apenas:

Bela merda de artigo

Anónimo disse...

O Passos começou a mentir logo de princípio. Muito mal!

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