quarta-feira, 4 de maio de 2011

Manual para perder eleições

Os Patinhos



Se há uns meses alguém me viesse dizer que José Sócrates voltaria a ser primeiro-ministro, responderia que era louco e que só podia estar a gozar comigo. Porém, nos últimos tempos têm-se acentuado os sinais de incompetência do maior partido da oposição.

Não é preciso ser nenhum génio da ciência política para saber que as eleições não são ganhas pelos partidos que não estão no poder. São os governos que as perdem. E o actual tem tudo para ser derrotado. Em menos de dois anos, o défice disparou para níveis proibitivos, o desemprego cresceu para valores nunca vistos, os impostos não têm parado de aumentar, inúmeras promessas feitas em campanha foram metidas na gaveta e, para culminar esta trajectória quase apocalíptica, foi obrigado a pedir ajuda ao Fundo Monetário Internacional e à União Europeia para evitar a humilhação da bancarrota.

Perante este quadro negro, ao PSD, diriam os magos da comunicação eleitoral, bastava fazer-se de morto e esperar que a inevitável derrota do PS acontecesse. Mas Pedro Passos Coelho decidiu trocar as voltas, inclusive às sondagens, que chegaram a dar-lhe mais de dez pontos de vantagem sobre os socialistas. Logo no dia seguinte a, com a restante oposição, ter feito cair o Governo, o PSD começou a disparar para os próprios pés. E Passos Coelho foi quem deu o primeiro tiro, ao admitir aumentar o IVA, depois de ter usado, para chumbar o PEC IV, argumentos como o de este prever um aumento da carga fiscal.

Depois vieram as recusas dos cavaquistas em entrar nas listas e o convite a Fernando Nobre para encabeçar os candidatos por Lisboa, sob condição de vir a ser presidente da Assembleia da República. A trapalhada à volta do ex-candidato presidencial, alérgico aos partidos "sacos de gatos onde cabem todos" - que entrou a dizer que se não for presidente do Parlamento renuncia ao mandato de deputado -, não somou, antes dividiu, o PSD e obrigou o seu principal parceiro, Paulo Portas, a dizer que não contem com o voto do CDS para esta eleição.

Como se não fossem já tiros suficientes, ficou ainda a saber-se, pela boca do próprio presidente do PSD, que, afinal, na véspera de levar o PEC a Bruxelas, Sócrates não se limitou a um telefonema. Chamou-o a São Bento para uma reunião de várias horas, em que ambos se comprometeram com um "pacto de silêncio" que haveria de ser pedido também por SMS aos deputados do PSD, para que as negociações do Governo não fossem prejudicadas em Bruxelas.

E, quando se pensava que já não havia mais pés para dar tiros, eis que vão sendo conhecidas as sugestões do movimento "Mais Sociedade" - uma espécie de estados-gerais do PSD, que sugere, por exemplo, a penalização nas pensões de reforma a quem recorra ao subsídio de desemprego -, que ora são contributos para o Programa Eleitoral do partido, que tarda em aparecer, ora não o são. Isto é, permitir que ideias avulsas sejam conhecidas e que, inevitavelmente, vão contaminando as propostas que hão-de ser sujeitas ao voto dos eleitores, sem que se perceba aquilo que é para levar a sério e o que não é, e que no fim soará sempre a um qualquer recuo, faz passar uma imagem de impreparação inaceitável a cinco semanas das eleições.

As sondagens são hoje o reflexo disso mesmo. PS e PSD estão, a cada estudo que é publicado, mais próximos um do outro. E, a continuar assim, ainda ficaremos todos de boca aberta se nos próximos tempos, e depois de tudo o que aconteceu, o PS se atrever a surgir à frente do PSD.

Se não arrepiar caminho, Passos Coelho arrisca-se a ficar para a história como o "quase primeiro-ministro". E José Sócrates a ser olhado pelo valor facial do slogan eleitoral do brasileiro Tiririca: "Pior do que está, não fica!"

Da qualidade das leis

Não é inédito o Tribunal Constitucional (TC) considerar inconstitucional legislação produzida na Assembleia da República. Porém, o chumbo pelo TC da revogação da avaliação dos professores aprovada por toda a oposição não pode deixar de nos interpelar, mais uma vez, sobre a qualidade do que se vota no Parlamento. Sendo esta matéria de relevo absoluto, e que mexe com a vida de milhares de cidadãos, não se compreende como é que na câmara legislativa não se pugna pela excelência. Só pelo oportunismo eleitoral.

Por Nuno Saraiva no DN

2 Comentários:

Anónimo disse...

Senhor Barbeiro, você ainda não percebeu que as sondagens são uma manobra de diversão, se por um lado dá jeito ao PS que a coisa fique meia empatada, é bom também para o PSD para apanhar os indecisos que vagueiam ao centro e à direita. Parece-me que desta vez o PS vai mesmo com os cães, caso contrario resta-me a mim e a muitos mais emigrar para outro país, de preferência um onde as pessoas tenham o mínimo de inteligência e que gostem do seu país.

Anónimo disse...

"O voto útil é entre duas inutilidades: uma porque já sabemos onde nos leva e estamos fartos; a outra, porque temos todas as razões para suspeitar que nos levará para pior ainda."
Miguel Sousa Tavares, Expresso, 30 de Abril

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