domingo, 28 de agosto de 2011

Os limites do crescimento: a actualização de 30 anos


“Actualmente, com o colapso da pesca, a redução das florestas, a diminuição dos níveis dos lençóis freáticos, a extinção dos recifes de corais, a expansão dos desertos, a erosão dos solos, o aumento da temperatura e o desaparecimento de espécies, é importante pensarmos sobre os limites do crescimento. Quando foi publicado pela primeira vez, em 1972, em resposta a uma solicitação do clube de Roma, o livro suscitou imediata atenção e muita polémica em diversas partes do mundo. Pela primeira vez, a humanidade despertava para a crua realidade dos limites físicos da Terra em condições de ilimitados impactos humanos. Há trinta anos, Os Limites do Crescimento foi ampla, mas erroneamente atacado, por profetizar a catástrofe, ignorar os custos e negar a adaptação. (…)

Trinta anos mais tarde, a obra acrescenta novas análises, actualiza dados e cenários para aprofundar o mesmo chamado de alerta. Os “limites” estão cada vez mais próximos e os seus primeiros impactos já excedidos aumentaram consideravelmente o prejuízo ambiental, económico e social, provocando situações de tragédia humana justamente nas áreas mais empobrecidas e vulneráveis do planeta. A obra concentra-se em elucidar a necessária transição para um mundo sustentável, e sugerir o necessário debate sobre as ferramentas para enfrentar a transição. Trata-se de uma excelente contribuição para o debate e acção sobre temas decisivos para a vida e o futuro das sociedades. Este livro é dedicado a políticos, cientistas, decisores, estudiosos, formadores de opinião e cidadãos preocupados com o seu destino e o dos que viverão. Enfim, seres humanos que ainda acreditam que é possível, e que ainda há tempo.”

De entre os livros publicados nas últimas décadas, poucos terão despertado tanta discussão e levantado tanta polémica como foi o caso de "Os limites do crescimento”. Publicado em 1972, de autoria de Donnela Meadows, Jorgen Randers e Dennis Meadows, o livro foi escrito por iniciativa do Clube de Roma fundado por Aurélio Peccei, e encomendado  a uma equipa de 16 técnicos dirigidos por Dennis Meadows, professor do grupo de dinâmica de sistemas da Sloan School of Management do MIT. Esta equipa baseou o seu trabalho num modelo informático, o “World3”, cujo protótipo foi desenvolvido pelo professor da mesma escola, Jay W. Forrester.

Na primeira edição, em 1972, o livro apresentava a seguinte grande conclusão: "se as tendências actuais de crescimento da população mundial, da industrialização, da poluição, da produção alimentar, e do consumo dos recursos, se mantiverem inalteradas, então os limites do crescimento no nosso planeta serão atingidos, algures, nos próximos 100 anos. E o resultado mais provável será um súbito e incontrolado declínio na população e na capacidade industrial."

"The Limits to Growth" foi recebido com grande entusiasmo, mas também com críticas: para muitos ele foi visto como uma profecia de desgraça, imbuído de uma visão pessimista, e foi acusado de fazer previsões alarmistas. Muitos fizeram leituras parcelares e enviesadas, ou nem sequer chegaram a lê-lo, para tirar conclusões apressadas e pôr em causa todo o seu conteúdo. Em particular os economistas das escolas clássicas viram questionada a sua crença no sagrado princípio do crescimento sem limites. Houve até um prémio Nobel da economia, Robert Solow, que veio afirmar que o livro estava mal fundamentado, que tinha insuficiência de dados, e que não tinha levado em conta a capacidade tecnológica do homem para superar as dificuldades.

Mas para muitos outros o livro foi como um despertar de consciências, um grito de alerta a dizer-nos que estávamos perigosamente a pisar o risco. As reacções mais sensatas foram daqueles que concluíram que nada está perdido mas que não podemos ficar indiferentes, e que precisamos de fazer alguma coisa. Uma boa síntese dessas posições será este depoimento da Royal Society of London: "se as previsões do crescimento populacional se confirmarem e o actual padrão de vida não for alterado, a ciência e a tecnologia poderão não ser capazes de impedir a degradação do ambiente e o contínuo empobrecimento de uma grande parte da população mundial." E é de referir, pela sua clarividência, uma importante análise de Matt Simmons, um especialista do “pico do petróleo”, feita em 2000

Em 1992 o livro foi actualizado com o título Beyond the Limits, e em 2004 foi publicado uma nova reedição do livro com o subtítulo "The 30 years update". As principais conclusões de 1972 são confirmadas nesta edição actualizada de 2004, e os autores repetem os alertas, mas propõem-nos uma via de esperança que eles chamam de revolução sustentável, que será a terceira grande revolução da humanidade, depois da revolução agrícola que sedentarizou os homens e da revolução industrial que nos conduziu à globalização.

Basicamente o livro analisa a evolução de variaveis  e  a demografia, a produção industrial, os recursos (renováveis e não renováveis) e a poluição. A população é a variável mais sensível e condiciona todas as outras. Em todos os cenários analisados prevê-se que a população atingirá um máximo nas próximas décadas, antes de começar a decair. E isto tanto pode acontecer pela redução voluntária da natalidade associada ao progresso tal como já acontece nas sociedades mais ricas, como pelo aumento brutal da mortalidade associada à pobreza e carência alimentar, e consequente redução da esperança de vida.

Ao longo de todo o livro realça-se o perigo do crescimento exponencial, mostra-se que a “pegada ecológica” já ultrapassou a capacidade de carga do planeta, e que temos forçosamente que regredir para nos ajustarmos, de novo, aos seus limites . Como nota de esperança apresenta-se o conceito de transição para uma sociedade sustentável  a qual não poderá mais ser governada pela “mão invisível” do mercado mas que deverá ser baseada em novos pressupostos: pensamento visionário, valorização das redes, falar verdade, aprendizagem contínua e um novo humanismo. Não estamos, seguramente, longe dos princípios inspiradores das Iniciativas de Transição.

"The Limits to Growth" ficará como marco na história do pensamento moderno. Ele integra as ideias daqueles que perceberam que existe uma realidade física que condiciona o nosso futuro, que se sobrepõe à teoria económica e que condena o liberalismo económico. Mas o livro aponta um caminho, uma nova via de prosperidade que urge começar a ser preparada.

Visto em "Designer Durável"

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